"Não sabendo que era impossível, foi lá e fez."

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Escrevendo com criatividade

DELÍRIOS DE UM VESTIBULANDO

Sentado naquela praça, procurava distrair-me observando as moléculas brincando enquanto aguardava a condução que não vinha. Foi quando deparei-me com a cena que procuro descrever, tal qual a vi.

Dona Hipotenusa caminhava lentamente, trazendo no colo Cateto, seu filho. Seu marido Isósceles caminhava logo atrás do tio, Escaleno.Formavam um triângulo amoroso, segundo diziam.
E observaram uma Tangente solitária que ali estava. Foi quando Bissetriz, moça afoita e apressada, tropeçando em um ângulo obtuso, caiu, machucando-se na diagonal. Acudiram todos, em uma espiral descendente.

"É a enésima vez que caio", dizia a moça.
"É preciso derivar a exponencial cúbica", observou um logaritmo que chegava, passeando com seu decimal de estimação.
Cateto riu, o que deixou a Bissetriz em um estado secante, quase chorosa. Foi D. Hipérbole que, traçando paralelas com os braços, a socorreu.

Hipotenusa, ao ver sua irmã recém-chegada, recriminou-a pelo atraso poligonal sem se dar conta de que estava, ela também, milimetricamente atrasada. Um quilômetro lotado virou a esquina; Isósceles e Escaleno fizeram menção de subir, mas desistiram, enquanto Tangente decidiu ir mesmo assim, já que estava atrasada para mais infinito.

Da condução desceram os irmãos Próton e Nêutron, que logo perceberam estar na equação errada. Pequenos átomos alçaram vôo em direção à pirâmide de uma elipse perfeita. Os irmãos eram, opostos pelo vértice - um côncavo, o outro convexo - e logo passaram a discutir:
"Seu pleonasmo, não viu que ainda não era a Paroxítona? Estamos na Proparoxítona!"
A discussão parecia aquecer em graus Celsius, quando chegou a autoridade. O Máximo Divisor Comum chegou impondo uma regra de três simples, incógnita à mostra, bradando em sustenido:
"Chega desta metáfora aqui!"

Foi quando chegaram as três irmãs Próclise, Mesóclise e Ênclise, sorvendo vogais enquanto discutiam quem ia à frente, no meio ou atrás da fila que se formava à espera da condução. O polígono chegou dirigido por Pitágoras, velho conhecido de D. Hipotenusa e do filho Cateto.
"Falta o outro", dizia enquanto desacelerava o vetor. Quando, por fim, a praça se esvaziou, observei Cosseno e sua mulher Mediatriz, que estava para ter um determinante em breve.

"É só uma fase", pensei eu, mas logo me dei conta de que são duas. "Mas elas vão passar. Ou melhor, eu vou." Entrei no ônibus.

Texto retirado da internet. Fonte: http://www.vestibular1.com.br/novidades/nov17.htm

A CONCLUSÃO I


          Um filme, uma novela, um livro e até uma piada, para que sejam considerados bons, precisam ter um ótimo desfecho. Em inúmeras vezes, cansamos de ver rostos decepcionados por esperarem um final apoteótico, e encontrarem uma história inacabada. Na dissertação, o fechamento também deve ser um ponto muito importante, afinal é a última informação que fica na cabeça do leitor; e, se for ruim, põe todo o texto a perder.
          A conclusão é o parágrafo do qual os alunos mais reclamam, e isso pode ser explicado pelo fato de haver uma reprodução de texto feita por eles. Assim, a partir do momento em que os alunos reproduzem argumentos que não são próprios, e sim verdadeiras cópias do que ouviram na televisão, de um amigo ou até do professor, eles não sabem tirar uma conclusão do que expuseram. Para completar esse quadro, muitos acham que o fechamento da redação significa fazer um resumo de tudo o que foi dito do texto para que a ideia fique mais clara na cabeça do leitor. Errado! A conclusão precisa apresentar uma ideia nova, ou seja, algo que ainda não foi escrito na dissertação, algo que conquiste o leitor por ser inesperado, e não óbvio. Então, vamos às observações:
  • Não comece a conclusão com “Concluindo” ou “Conclui-se que”. Se você está na conclusão, é óbvio que se está concluindo. Se fosse necessária tal expressão, então deveríamos começar a introdução com “Introduzindo” e os desenvolvimentos com “Desenvolvendo”!
  • Não use frases prontas como “Com base no que foi dito acima”, “Destarte”, “Diante dos fatos mencionados” e “De acordo com os argumentos supracitados”. Seu texto não pode ser uma cópia de tantos outros, muito pelo contrário: ele precisa ser original!
  • Antes de apresentar uma ideia nova para concluir o seu texto, retome, na conclusão, a tese (a primeira frase que foi escrita na introdução), mas com outras palavras, e só depois faça o fechamento.
  • Nunca coloque informação demais na conclusão, nem deixe assuntos pendentes. Se estiver fazendo provas como a do ENEM ou de universidades estaduais, apresente soluções ou sugestões para o problema abordado. Caso esteja fazendo vestibular para universidades federais, não é obrigatório solucionar nem sugerir nada. Compare o D1 e o D2, veja se são iguais ou diferentes, se a situação neles é melhor ou pior, e então escreva o que você conclui disso.
DICA: Se quiser, você pode experimentar colocar uma pergunta retórica (feita para fazer pensar, que não precisa de resposta) na conclusão.

OS DESENVOLVIMENTOS


          Na cinematografia, o que faz um filme ser campeão de bilheteria? O que torna uma peça de teatro um sucesso? E o que leva centenas de pessoas a assistirem a uma sessão de stand up comedy? Com certeza, não é apenas uma cena solitária de ação que dá o Oscar a uma produção de Hollywood, muito menos uma única piada boa que arrasta um grande público aos teatros. Para isso acontecer, o enredo de filmes, peças e humor em geral precisa ser bem desenvolvido para que o público acompanhe o desenrolar dos acontecimentos e aguarde ansioso pelo desfecho.

          Assim também acontece na redação: os parágrafos de desenvolvimento são muito importantes na hora de apresentar bons argumentos sobre o tema. Ele não pode ter apenas uma parte bem escrita, ou apenas uma ideia boa. É necessário ter todos os parágrafos organizados e interessantes. Por isso, precisamos esclarecer alguns pontos:

  • Seu desenvolvimento não é um jornal imparcial nem um livro didático! Você não pode querer apenas contar fatos ocorridos, épocas importantes na história, ou ainda explicar alguma doença e suas formas de contágio. Você pode até citá-los, mas logo depois é preciso expressar sua opinião sobre o tema e sua análise crítica (lembrando que fazer crítica não significa apenas falar mal de algo).
  • Os dois desenvolvimentos não são independentes. As ideias se completam ou se opõem, mantendo uma linha de raciocínio para que o texto não fique com muita informação solta.
  • É possível fazer apenas um desenvolvimento na redação. E ainda é possível ter três! Isso depende do número de ideias que se tem para desenvolver. Cada ideia supõe um desenvolvimento. Deve-se lembrar, no entanto, que todas as ideias desenvolvidas precisam ser apresentadas rapidamente na introdução.

A INTRODUÇÃO


        Em um relacionamento, às vezes, o namorado quer fazer uma surpresa e leva sua amada a um jantar sem dizer exatamente aonde vão. O problema é que, em muitas vezes, a surpresa pode ser bem desagradável. Imagine: logo no dia em que ela não fez a unha do pé, o namorado a leva para um restaurante japonês em que ela vai precisar tirar o sapato; ou então a festa é tropical, e ela foi com traje de gala; ou ainda o jantar é em um restaurante chique, cinco estrelas, e ela foi com roupa e colar havaianos. Não dá! A surpresa de encontrar o inesperado é, no mínimo, desesperadora.
          Do mesmo jeito ocorre em uma redação. A introdução não pode deixar surpresas reservadas no texto para o corretor. Ela precisa deixar clara a forma com que o tema vai ser abordado nos desenvolvimentos. O leitor precisa saber, já na introdução, para que lado você vai levar o seu texto.
           Nesse comecinho da redação, não precisa dar exemplos nem se aprofundar no assunto. Você apenas mostra, de forma rápida e abstrata, o que vai ser desenvolvido ao longo do texto. Só nos desenvolvimentos, você exemplifica, sustenta e aprofunda o que foi apresentado na introdução.
           A introdução tem basicamente dois elementos: a tese e as ideias secundárias. A tese é o seu ponto de vista sobre o tema a ser abordado. Ela é curta, direta, incisiva e se compromete com o texto. Portanto se começamos com Desde os primórdios, temos o compromisso de abordar o tema desde o tempo das cavernas, mas nem sempre fazemos isso. Dessa forma, deve-se ter cuidado ao começar a sua tese para que haja uma coerência com o resto do texto. Já as idéias secundárias são responsáveis por apresentar qual a estratégia escolhida para escrever o texto e mostrar como iremos abordar o tema. Assim a escolha da estratégia também requer cuidado e tempo.

INSTRUÇÕES BÁSICAS


1. ESTÉTICA TEXTUAL

  • Sua letra deve ser legível, nem muito grande, nem pequena. Você pode utilizar letra de imprensa ou de forma, desde que faça distinção entre maiúsculas e minúsculas. 
 
  • Caso você cometa algum erro, passe apenas um traço em cima da palavra errada e continue a escrever. Não utilize borrachas, corretivos, não circule, nem sublinhe, não risque várias vezes o erro, nem coloque entre parênteses ou com expressões retificadoras como “nulo”, “digo”, “ou melhor” ou “sem efeito”.
 
  •  Para começar os parágrafos, dê um espaço de dois dedos da margem esquerda. Na margem direita, não deixe espaços em branco, não ultrapasse o lugar destinado à sua redação, nem amontoe as letras para caberem no espaço. Quando for dividir sílabas, não deixe vogais sozinhas, e cuidado para não formar palavras de baixo calão.
 
  •  Se for optar por colocar título, ele deve ser centralizado na primeira linha. Não utilize aspas, negrito, nem sublinhe. Pode-se usar só a letra da primeira palavra maiúscula ou todas as iniciais maiúsculas (exceto das palavras de ligação).
 
  •  O título é obrigatório apenas para a Narração e a Descrição; para a Dissertação, ele é facultativo. Caso haja a opção pelo título, a redação em si começará na terceira linha, uma vez que o título ocupa a primeira linha.
2. LINGUAGEM
 
Ø  Não se recomenda o uso de:
 
a) Palavrões;
b) Abreviações (exceto as siglas), inclusive as típicas da linguagem da internet;
c) Termos técnicos ou excessivamente restritos;
d) Citações, provérbios, trechos de música e ditados. Em vez de copiar uma frase já solidificada (o que caracteriza um clichê), prefira criar uma nova estrutura sintática para ela, como a inversão dos termos ou a mudança da voz verbal. Isso dá um ar mais pessoal e criativo.
 
Ø  Você pode utilizar gírias e neologismos, desde que eles estejam coerentes com a linguagem utilizada. Em textos mais formais, eles destoariam; no entanto, em cartas ou redações com abordagens mais simples, eles podem funcionar muito bem.
 
Ø  Ao utilizar gírias, empréstimos linguísticos e estrangeirismos, não é necessário colocar aspas. No entanto, ao escrever uma palavra estrangeira, prefira o seu equivalente em português, se houver. Ex: prefira “xampu” a “shampoo”.
Ø  Escreva de forma clara. Para isso, evite períodos muito longos e coloque as devidas vírgulas. Além disse, utilize pontuação diferenciada (parênteses, reticências, exclamação, interrogação, travessão etc), pois isso ajuda na produção de um texto opinativo.
 
 

Escrevendo...

                 Sem dúvida, Técnicas de Redação é uma das disciplinas que mais preocupam os estudantes; e, para complicar a história, enquanto as outras matérias são classificatórias no vestibular, a redação é eliminatória! Somados a isso, fatores como medo, tensão, pressão dos pais, falta de estímulo, dificuldades com a língua portuguesa e autocobrança excessiva contribuem para criarmos nosso famoso Bicho de Sete Cabeças. Mas, calma: para fazer uma boa redação no vestibular, você não precisa ser um gênio, e sim entender alguns pontos.
               Vamos a eles:
1- Antes de se tornar um bom redator, você precisa ser leitor. Compreender e interpretar os diversos textos que nos circundam é muito importante para nos fazer produzir sentidos, formar opiniões, ser críticos e consequentemente saber colocar no papel nossos argumentos. No entanto, é preciso ter cuidado com os textos advindos dos meios de comunicação, pois eles tendem a massificar as ideias, impedindo-nos de produzir textos originais, mas sim verdadeiras cópias de opiniões que achamos que serão bem vistas pelo corretor. Lembre, porém, que sua prova exige a produção, e não a reprodução de textos!
 2- Sua redação tem que ter a sua “cara”! A linguagem usada no texto produzido não precisa ser carregada de palavras difíceis. Sua nota não depende de termos técnicos e extremamente formais, mas sim da capacidade de escrever de forma clara e coesa, mesmo com um vocabulário mais simples. Então, é preferível continuar no “feijão com arroz”, com os quais estamos acostumados, a partir para o “caviar”, que não necessariamente é mais gostoso.
3- Não adianta invejar a forma de escrever do seu colega e tentar imitá-lo. A redação é algo pessoal, porque é baseada em suas opiniões, suas impressões, suas experiências... Imagine-se imitando o jeito de falar do gaúcho pelo simples fato de achar bonito o sotaque dele. No mínimo, ficará engraçado. Como seu texto não visa a produzir gargalhadas, tente redigir algo próprio, original.
4- Escrever bem é prática constante. Apenas assistir às aulas não o torna um bom redator. Você precisa praticar! Não pare de redigir, se tirar notas baixas. Pense assim: para conseguir um corpo musculoso, pernas torneadas, bíceps e tríceps, a pessoa precisa de dedicação, ainda que, muitas vezes, sinta dores musculares e desânimo para treinar. Então, quando o namoro, a internet, a televisão e a preguiça quiserem-nos desestimular, arregacemos as mangas e vamos ao levantamento de peso: levantemos a caneta e vamos malhar no papel!
 
               Boa sorte!
                                                                                                             Coxise